sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pequenos percepções de Érica Giesbrecht

Entre chuvas, bodhráns, batatas, Guiness, católicos, protestantes e o inglês temperado com pouco sal dos nossos queridos Nothen Irishes, nós do Urucungos nos deliciamos com a hospitalidade e a gentileza daquela terra.
Um ar limpo, fresco e muito úmido cerca tudo. Um pais verde, verde, verde (as folhas das árvores, seus troncos, suas raízes, a cerca, a calçada...) afinal de contas a chuva não dá uma trégua. O escândalo das flores pra todos os cantos. Transito civilizado, ruas limpas (menos nos fins de semana, quando a galera chapa o coco e larga garrafas, comida e amigos vomitando na calçada), caixa eletrônico exposto no meio da rua.
Gente ruiva e loira, de pele muito branca, de olhos azuis, admirando nossos olhos castanhos e negros. Meninas aproveitando a "primavera", pra colocar sainhas curtas e ir dançar nos night clubs. O jeito de andar é inconfundível: como se algo empurrasse suas costas pra frente, braços balançando, pernas marchando e nada de molejo. Será que a chuva acelerou o passo das irlandesas?
Muita gente via brasileiros pela primeira vez: pensem, num pais marcado por um conflito civil por séculos, vamos concordar que não se trata de um destino turístico muito atrativo, certo? Não há muitos estrangeiros em Belfast. Quem seria louco de visitar ou ir morar num pais em guerra? Não há uma "Avenue des Champs-Élysées" como em ParIs ou um "Convent Garden Square" como em Londres, onde se concentram as melhores marcas do mundo (Prada, Yves Saint Laurent, Dolce & Gabbana, etc). Quem seria louco de investir num prédio ou numa loja luxuosa sob o risco de tudo ir pelos ares?




Belfast, com 300 mil habitantes (menos gente do que em Franca - SP) mal parece uma capital européia. Um museu e um teatro de ópera acabam de ser reabertos depois de reformas. Há apenas um multiplex e um teatro para concertos. O risco de atentados fez baixarem uma lei proibindo aglomerações. Passados dez anos, a cidade começa a se reconstruir e respirar.
Mas então o que há de tão encantador lá? Vamos começar com os pubs históricos, como o The Crown ou o Duke of York. Próximos ao Hotel Europa - que por muitos anos hospedou embaixadores e figuras importantes sendo por isso um alvo para os ataques do IRA - guardam uma atmosfera, de história de lutas, de desejos pelos direitos e pela liberdade. Foram reconstruídos várias vezes e é louco pensar que ali beberam católicos enquanto planejavam sua libertação.


Tem também o Mercado Saint George. Um dos meus lugares preferidos. Talvez o canto mais cosmopolita da provinciana Belfast. Comida e temperos da China, Índia, França, Itália, Paquistão, Grécia e, é claro, produtores rurais da Irlanda do Norte.
Essa cidade também jorra música celta. Legado cultural proibido durante os anos do conflito (The troubled years) agora passa a ser reapropriado por Irlandeses católicos ou protestantes. Como uma herança do povo irlandês, agora não mais coisa de católico, passa a ser ensinada das escolas, soa nos pubs, nas feiras livres, nos concertos públicos.
Assim como a música, as crianças da Irlanda, em seus lindos uniformes que lembram os meninos do Harry Potter, passaram a aprender a língua e o sapateado irlandês na escola.
Poderia divagar em percepções por muito mais tempo, mas creio que por ora o leitor já esteja querendo ler outras matérias, já esteja satisfeito do gostinho da Irlanda do Norte.
Slán agaibh
(adeus pra quem fica)

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